O TRAÇO COMO PERCURSO SOBRE O PAPEL.
Primeiro os olhos, janelas para o mundo, se apaixonaram
pelas imagens.
Pinturas
minimalistas e suntuosas galerias pintadas em pedras nas cavernas ainda hoje
nos causam espanto e admiração. Estes presentes de nossa pré-história são os
primeiros registros que exemplificam a necessidade do homem de se expressar de
forma diferente da tradição oral e corporal. Este é o momento da transição da
oralidade para a escrita, a criação de signos que serão adorados e respeitados,
assim como os materiais que lhes servirão de suporte, por seu conteúdo e
conhecimento. É o inicio da imagem, da história e a conexão com o espaço e
tempo. Sobre a arqueologia nos debruçamos
em busca de compreender o caráter sagrado, comum em tantas culturas
ancestrais.
Ainda lembro-me de menino a apreciar Toulosse Lautrec e me
gabar deste gosto. Ele foi o artista que primeiro me despertou o interesse com suas
cores, desenho e temática. Atualmente, após ter visto pessoalmente alguns
desenhos, poderia também dizer dos papeis utilizados. Funcionou comigo como o grande
publicitário da arte e a partir dele me debrucei sobre o estudo da trajetória
de inúmeros artistas predecessores e seus contemporâneos. Os impressionistas e
uns alguns depois. Reconheço o quanto às apreciações de estampas e o estudo da
historia me alimentaram no desenvolvimento de novas estéticas. Mas minha
linguagem não era somente o desenho, a escrita ou poética visual. Por enxergar
belezas pelo mundo me apodero da fotografia como ferramenta de linguagem e de
integração junto ao movimento cultural em Brasília. Também a fotografia não me
bastava, após a formação técnica ansiava por novas leituras e assim frequentei
oficinas de novas linguagens fotográficas com Rosangela Renno e Claudio Feijó.
Esta busca de possibilidades traz a libertação da imagem. Prossigo procurando
novos suportes e é por aí que o papel artesanal entra em minha vida.
Na década de 90, através da primeira turma de
fibra do projeto saber-fazer, no projeto de revitalização e implantação do
Museu Vivo da Memória Candanga – HJKO – Brasília (DF), coordenado por Rosane
Stukert. Oportunidade de aprender a técnica do papel artesanal e vivenciar
novas possibilidades e linguagens em contato direto com alguns dos primeiros
multiplicadores e de outros artistas nesta linguagem. Oficinas com Diva Helena
Buss, Nícia Mafra, Vera Queiroz,
Joyce Saturnino, Lincoln Volpini, Hilal Sami
Hilal e Shirley Paes Leme.
ARTE é como uma centelha, a luz que desperta a comunicação
com o externo, ascende a sua consciência e criatividade. O artista como um
enlaçador de sonhos do mundo, atento as conexões, aos caminhos, é parte do
todo, como as fibras nas folhas do papel.
O entrelaçar das microfibras ao escorres a água e surgir a
folha de papel artesanal trás em si a mesma magia de revelar uma imagem à luz,
seja sob das tochas nas cavernas ou em um laboratório de fotografia. Depois a folha se torna o acaso, ausência e
possibilidade. O tudo e o nada como já foi dissertado por Fayga Ostrower ou o
INTERSER de Thich Nhat Hanh. O contacto
com o papel artesanal como novo material de expressão, a proximidade de amigos
artistas, a apreciação de diversas exposições favorece a aproximação com
linguagens ligadas ao construtivismo, ainda de forma desordenada e sem cronologia
histórica. A concentração, isolamento e
imersão fazem parte de minha formação, tanto quanto a pesquisa, o conhecimento,
a comunicação, intercâmbio de resultados.
A busca de compreender o processo criativo e se enquadrar dentro dos conceitos
e movimentos sociais e plásticos são reinterpretados nas pesquisas em diferentes
produções, experimentações para o autoconhecimento. Assim a arte é também esta
troca de experiências, vivencias e modelos em busca do espiritual.
O papel artesanal,
por sua natureza e história me conectou diretamente a uma rede de sonhos do
mundo, crio a MR Papel - PAPELaria ARTEsanal.
Assim após alguns anos desenvolvendo pesquisas com várias
plantas para a produção da linha de papel artesanal Botânico, tenho os
resultados de uma pesquisa exclusiva de Papel da de entrecasca de pinhão, fruto
da Araucária Angustifólia, o único pinheiro genuinamente brasileiro. De
coloração marrom escuro, indicado para ser utilizado como material de
expressão, integração e identidade para a Região turística de Visconde de Mauá
e passo a utiliza-lo em meus trabalhos de artes plásticas, encadernações e
produção de livros de arte através de nossa
editora artesanal “Edições em papel de ontem”. No caminho do minimalismo e conceitual, por
vezes a folha é exposta e se basta enquanto obra completa.
No principio ainda purista com os papeis artesanais em tons
de cru, utilizo técnicas e estéticas inseridas nas artes plásticas no ultimo
século. Colagens geométricas e textura e
avançando para além do impressionismo, mais a vontade navegando em vertentes
mais modernas e conceituais das artes plásticas com as Assemblages, Frottages e
acrílicas com Grattages. Assim vou acrescentando
colorido aos trabalhos, adicionando papeis coloridos, imagens, tintas lápis e outros
materiais. Passo a convidar amigos
papeleiros, artistas e fotógrafos a utilizar os papeis Botânicos em suas obras.
Surgirão múltiplas linguagens que gerou a exposição coletiva “O papel das
vilas” e suas 14 edições subsequentes, sempre com a colaboração dos artistas e
parceria com os espaços culturais. Um projeto inclusivo envolvendo mais de 100 participantes.
Sua primeira edição foi realizada em 2009 no Centro Cultural Visconde de Mauá, no
ano em que completaria 30 anos que Otávio Roth iniciou as pesquisas de produção
de papel artesanal no Brasil. Isto nos é recordado por Diva Buss, artista
plástica da 1º núcleo de pesquisa da fibra da UFMG, uma de nossas primeiras
multiplicadoras da técnica do papel artesanal.
Assim a exposição se torna uma celebração à história do papel artesanal
brasileiro. https://galeria-ambiente.blogspot.com.br/2017/03/artistas-do-o-papel-das-vilas-e-sua.html
O movimento acontece porque era o sonho de todos, era o sonho do mundo. Tudo isto se soma como uma experiência muito enriquecedora, um grande laboratório de artes plásticas, com liberdade e expressão, como exercícios de produção, expografia e curadoria de exposições de artes plásticas. O sonho de Diva Buss , com uma nova centelha. Em 2010 após receber uma obra de sua autoria pelos correios, encaminhou-me um email com seus desejos...
O movimento acontece porque era o sonho de todos, era o sonho do mundo. Tudo isto se soma como uma experiência muito enriquecedora, um grande laboratório de artes plásticas, com liberdade e expressão, como exercícios de produção, expografia e curadoria de exposições de artes plásticas. O sonho de Diva Buss , com uma nova centelha. Em 2010 após receber uma obra de sua autoria pelos correios, encaminhou-me um email com seus desejos...
"... NAO É FÁCIL SER ARTISTA NO BRASIL,
VAMOS FAZER UM LEVANTAMENTO DOS ARTISTAS DO PAPEL ESPALHADOS PELO BRASIL E
REINICIAR A ARTE POSTAL EM PAPEL ARTESANAL, QUE TAL A IDEIA? NOS ANOS 80
PARTICIPEI DA ARTE POSTAL INTERNACIONAL FOI ÓTIMO... Diva Buss -
Wednesday, February 24, 2010, 4:57:52 PM".
Funcionamos como antenas, captadores de desejos e
reconectores que os reinserem na rede do mundo.
Com a morte prematura de meu irmão artista plástico e
educador Rodrigo Rosa, fico responsável por seu trabalho. Este foi contemplado com o Premio Marcantonio
Vilaça 7ª edição – FUNARTE – MinC, para complementação do acervo do Museu
Nacional de Republica, do Conjunto Cultural da Republica em Brasília (DF). Com
a doação do conjunto de esculturas, desenhos e pinturas referentes ao site
specific Arquipélago Férreo e um recorte representativo de sua obras completa.
Foi efetivada a doação, com posterior exposição, ação educativa, criação do
site e outras mídias. Foi necessária uma dedicação exclusiva para localização,
identificação e catalogação do acervo, com visita aos dois ateliês do artista,
limpeza e embalagem de obras e translado para doação ao MuN. Um período de
sensibilização e imersão em sua obra, universo e percurso. Leitura e reflexão
sobre os textos críticos e observação de sua extensa biblioteca, constituída em
grande parte por livros de artes plásticas com tendências para arquitetura,
escultura e instalações.
Feito a cronologia, percebi que era a trajetória a linha que
imaginei para apresentar na exposição em sua homenagem. Interligar peças soltas
de algumas instalações, com esculturas e grupos de obras em papel.
RODRIGO ROSA: A FORMA E A ARTE DA CIDADE - foi concebida
como um tributo, “Um passeio pelo percurso e um encontro com o artista”. Desejo
do artista “em nenhum lugar, em todo lugar” e um desafio. Uma imersão na arte
das instalações, dos penetráveis e do que ainda esta a frente de seu
tempo. Na entrada vitrine apresentando
gravuras e desenhos de seu período acadêmico, seguida da reprodução da
escultura site specific “Cubo Branco”, o percurso encontramos preenchido por esculturas
geométricas, pinturas murais e sobre papeis, vídeo e memórias. Realizada em duas salas, realizei a concepção do
projeto expografico supervisionado por Wagner Barja e Ana Frade.
Esta experiência redimensionou minha maneira
de ver a arte, criou novas realidades e compromissos com as artes visuais num
caminho sem volta.
O espaço se torna moldura. http://rodrigo-rosa.sitepx.com/rodrigo-rosa-50-anos-a-forma-e-arte-da-cidade-2016.html
Foi um período misto de realização, aceitação e orgulho pelas
realizações de meu irmão e muito trabalho a realizar, tinha fundir nossos
caminhos. Desenvolvo o conceito e crio a
GALERIA AMBIENTE – projeto in progress -
Para resguardar acervos preciosos na Serra Mantiqueira, sua memória e tradição.
Procurando meios de gerenciar os meus acervos
associados ao de meu irmão Rodrigo Rosa, conjuntamente ao do grupo “O papel das
vilas”, arquivos de Arte Postal e demais obras de artistas regionais e
convidados. Visa a implantação de infraestrutura
em uma área disponível de natureza reconstituída e fácil acesso na região
Turística de Visconde de Mauá, um projeto sustentável para preservação, exposições,
movimentação, comercialização e intercâmbio de artistas, eventos, oficinas,
vivencias, produção cultural e divulgação de artes. A arte dentro e fora do CUBO
BRANCO na Serra da Mantiqueira, por deixaram suas marcas artistas reconhecidos
como Augusto Rodrigues , Alfredo Guignard, Fayga Ostrower, Rubens Gerchman,
Roberto Magalhaes, Clécio Penedo, Jose Carlos Boi Ferreira, Roberto Campadello
além de um grande grupo de artistas a procura de uma alternativa de vida.
Oportunamente sou convidado a participar do projeto de Suyan
de Mattos, CARTA/OBRA numa releitura da arte postal internacional. Intensifico os
intercâmbios e produção de Arte Postal, como um exercício livre, de formação de
identidade e desapego, trabalhando com o papel artesanal em novos formatos pela
rede de correspondentes. A arte postal funciona
como um canal de comunicação, reinserção e empoderamento conceitual neste
período de transição. Participo de exposições e sou responsável pela produção e
organização da 1ª Quinzena de Arte Postal de visconde de Mauá, com o 1º
salãoARTEcorreios e exposição do CARTA/OBRA, resultado de meu intercambio com o
coletivo de 52 artistas e atividades afins. http://galeria-ambiente.sitepx.com/mauricio-rosa-arte-postal-cartaobra-mail-art.html
trajetória é o traço sobre
o espaço definido do papel.
A matéria modelada pela história, estimulada
se torna folha, livro, instalação, uma centelha no mundo.
Maurício Rosa
09.03.2017
CURRICULO
https://mrpapel-papelariaartesanal.blogspot.com.br/2017/04/curriculo-mauricio-rosa-2017.html
CURRICULO
https://mrpapel-papelariaartesanal.blogspot.com.br/2017/04/curriculo-mauricio-rosa-2017.html
Bacana sua trajetória, Maurício. A gente deve ter se cruzado nessas oficinas do Museu, junto com nossa amiga papeleira Miriam Pires, através da Sec. do Meio Ambiente do DF batalhamos muito pra conseguir recurso e fazer acontecer essas oficinas Papel Novamente Papel. Tempo de conquistas memoráveis esse do Museu da memória Candanga, muita gente boa passou por ali. O cartaz do encontro é de minha autoria. Vou procurar um pra levar pra você.
ResponderExcluirLegal Romulo, o que tinha que era uma foto montagem com folhas artesanais, se foi, sera bem vindo. abração.
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